terça-feira, 20 de novembro de 2012

Consciência não tem cor

20 de novembro, no Brazil, foi instituído como o Dia da Consciência Negra. A data teria sido escolhida para recordar uma incursão ao quilombo dos Palmares que culminou com o suicídio do líder quilombola conhecido como Zumbi, sobre cuja vida há pouca evidência histórica e há até quem acredite que seja apenas uma lenda. Apesar de ser enaltecido como um enfrentamento ao racismo ainda arraigado na sociedade brazileira, a meu ver o Dia da Consciência Negra não é tão efetivo...

Sob uma falsa bandeira de promover a "igualdade racial", a bajulação e supervalorização de elementos culturais de matriz africana é acrescida de um viés revanchista, visando levar um conceito de "culpa coletiva" dos brancos pela escravidão, comparável ao que a Igreja Católica e os nazistas tentavam imputar aos judeus, constantemente vilanizados e equivocadamente apontados como responsáveis pela morte de Jesus. É o pior tipo de argumentação possível, o mais inconsistente para quem alega lutar contra o racismo, visto que tenta justificar um eventual revanchismo contra grupos étnicos que anteriormente detinham o poder político e o acesso à cidadania plena. Convenientemente não é frisado tão veementemente que algumas tribos africanas colaboravam com a escravidão, fornecendo membros de tribos rivais derrotados em guerras aos mercadores árabes e europeus de escravos.

Fala-se muito em "orgulho de ser negro", mas qualquer um que diga ter "orgulho de ser branco" é logo olhado com desconfiança como se estivesse proferindo um discurso nazista. Até mesmo entre brancos é tabu discutir tal questão, e a percepção da "culpa coletiva" imputada pela mídia e pelos "movimentos sociais" tem um peso significativo nesse problema. Assim como o negro é livre para ter orgulho da própria cor, o branco não é obrigado a ter vergonha. Ninguém escolhe nascer preto, branco, azul ou vermelho com bolinhas amarelas. De qualquer jeito, ter orgulho de uma característica física é uma grande imbecilidade, o que realmente importa é o caráter e a atitude.

Costuma-se também, nesse contexto de "culpa coletiva", falar em "reparação às populações historicamente desfavorecidas" como se todo brazileiro não-negro tivesse uma "dívida social" com os negros, e emerge o conceito de uma "discriminação reversa", também citada eventualmente (e tão equivocadamente quanto) como "discriminação positiva". Assim, surgem absurdos como o sistema de cotas nas universidades públicas e outras políticas de varrer a poeira para baixo do tapete, intituladas "ações afirmativas" pelos "politicamente-corretos". Também existem brancos economicamente desfavorecidos e vítimas de discriminação sócio-econômica, então usar a questão racial para obter benefícios é uma forma de racismo tão injustificável quanto a escravidão.

Outros grupos étnico-raciais também foram, e são até hoje, também vítimas de racismo no Brazil e nem por isso insistem em exigir uma "reparação". Imigrantes japoneses e descendentes que não tinham nada a ver com a II Guerra eram tratados como inimigos, sofriam agressões e sabotagens às atividades profissionais, alemães tinham as sepulturas vilipendiadas e em alguns casos tinham que alterar os sobrenomes para não serem estereotipados como nazistas, judeus também eram perseguidos desde o Brazil-colônia, e os indígenas correram risco de extinção e também chegaram a ser escravizados até que a intervenção da Igreja Católica limitasse a escravidão no Brazil aos negros. Um erro (a escravidão) não justifica o outro (políticas de cunho racial), logo foder o branco não pode ser considerado "reparação histórica", é pura e simplesmente uma odiosa e hipócrita manifestação de racismo.

Ainda que negros das mais diferentes regiões da África, e de diferentes grupos étnicos, fossem vendidos como escravo, no Brazil fala-se muito em "raça negra" como se fosse uma só. No entanto, muitos grupos negros apresentam até hoje constituição física diferenciada, o que derruba o conceito de uma raça negra única. Descendentes de tribos rivais que estavam se matando na África para vender os inimigos aos portugueses acabam inseridas numa visão generalista que ignora alguns fatores geopolíticos importantes para realmente entender a verdade sobre a história dos africanos no Brazil.

No âmbito cultural, o samba só falta ser equiparado ao Hino Nacional como se fosse a expressão máxima de "brazilidade" apenas pela origem de matriz africana, como se fosse o único estilo musical conhecido pelos brazileiros. Como se nascer no Brazil equivalesse a uma proibição a gostar de rock, black music de influência americana, ou até mesmo da música erudita européia - eu mesmo conheço negros que abominam samba e pagode... Os "politicamente-corretos" de plantão também parecem esquecer que, antes do negro ser trazido para o atual território brazileiro, o indígena também já tinha uma musicalidade própria - o verdadeiro nativo, massacrado até a beira da extinção pelo modelo colonialista, é desprezado pelos falsos-moralistas que ficam com tanta bajulação para os negros que parecem querer se agarrar na jiromba dum negão para nunca mais soltarem...

A meu ver, um grande problema que emerge com essa conversa-pra-boi-dormir de "consciência negra" é o fomento de uma tensão racial que divide perigosamente a população brazileira, dificultando a união em torno de um sentimento patriótico comum que poderia levar até mesmo a um maior empenho coletivo quanto a questões políticas que beneficiariam a toda a população brazileira, como o combate à corrupção e aos constantes ataques à democracia perpetrados em nome do socialismo.

Desprezar a contribuição de imigrantes europeus e asiáticos no desenvolvimento da identidade nacional para parecer "politicamente-correto" é um atentado tão grave ao nosso patrimônio histórico e artístico (incluindo o patrimônio imaterial) quanto a implosão dos Budas de Bamiyan perpetrada pelos fundamentalistas islâmicos do Taliban representou para a história do Afeganistão. Ainda que alguns elementos africanos até hoje se façam presentes, não só na cultura como também na gastronomia, não há justificativa para tentar promover um grupo étnico-racial como se tivesse mais importância que os outros. Caso contrário, ao invés da língua portuguesa estaríamos falando algum dos ínúmeros dialetos africanos...

Consciência, definitivamente, não tem cor, e todas as raças que de alguma forma colaboraram para que o Brazil se tornasse o caldeirão étnico que atualmente é tem o mesmo valor como seres humanos. As cores da Bandeira Nacional devem estar sempre acima da cor da pele.


------------------ Disclaimer ------------------
O autor não apóia nenhuma manifestação de supremacia racial, indiferentemente quanto ao grupo que a esteja praticando, não importa se é a EducAfro ou a Ku Klux Klan.

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